DERMATOSES OCUPACIONAIS
As dermatoses ocupacionais compreendem as alterações da pele, mucosas, unhas e pelos, direta ou indiretamente causadas, mantidas ou agravadas pela atividade profissional. Constituem doenças que tendem a se tornar mais frequentes pelo crescente progresso industrial, com desenvolvimento de novos produtos, processos químicos e expansão tecnológica. Cerca de dois terços das doenças ocupacionais são dermatoses, o que salienta a importância do reconhecimento dessas no campo da Medicina do Trabalho e como problema de Saúde Pública.
São determinadas pela interação de dois grupos de fatores:
1. Predisponentes ou causas indiretas: idade, sexo, etnia, antecedentes mórbidos e doenças concomitantes, estado cutâneo, distúrbios da sudorese, fatores ambientais como o clima (temperatura, umidade, ambiente de trabalho), hábitos e facilidades de higiene;
2. Causas diretas constituídas pelos agentes biológicos (vírus, bactérias, fungos), físicos (calor, frio, traumas, radiação solar), químicos (drogas ou qualquer produto químico) presentes no trabalho que atuariam diretamente sobre a pele, produzindo ou agravando uma dermatose preexistente.
Cerca de 80% das dermatoses ocupacionais são produzidas por agentes químicos, substâncias orgânicas e inorgânicas, irritantes e sensibilizantes. A maioria é de tipo irritativo e um menor número é de tipo sensibilizante (alérgico). As dermatites de contato são as dermatoses ocupacionais mais freqüentes. Estima-se que, juntas, as dermatites alérgicas de contato e as dermatites de contato por irritantes representem cerca de 90% dos casos das dermatoses ocupacionais. Apesar de, na maioria dos casos, não produzirem quadros considerados graves, são, com freqüência, responsáveis por desconforto, coceira, ferimentos, traumas, alterações estéticas e funcionais que interferem na vida social e no trabalho. A localização mais comum é nas mãos, como a encontrada nos pedreiros por cimento e da dona-de-casa e serviços gerais comumente causada por sabões, detergentes, produtos de limpeza ou no preparo de alguns alimentos.
As principais dermatoses relacionadas ao trabalho são as seguintes:
1. Dermatoses infecciosas: micoses, infecções bacterianas;
2. Fitodermatoses: comum em jardineiros ou donas-de-casa e causada por contato com algumas plantas (árvores, arbustos, plantas decorativas, heras e flores, frutos, sementes e raízes, hortaliças, pólens e extratos vegetais);
3. Dermatite alérgica de contato: por sensibilização (contato repetitivo com determinada substância independente da concentração). É um fenômeno imunológico.
4. Dermatites de contato por irritantes: relacionada a concentração do produto. Não é fenômeno imunológico;
5. Urticária de contato: borracha natural (látex) nos usuários de luvas desse material;
6. Alterações agudas da pele devidas à radiação ultravioleta: queimadura solar, dermatite por fotocontato; urticária solar;
7. Alterações da pele devidas à exposição crônica à radiação ultravioleta: ceratose actínica (lesão pré-maligna); dermatite solar, “pele de fazendeiro”, “pele de marinheiro”, alguns cânceres de pele;
8. Radiodermatites: por exposição à radiação ionizante;
9. Erupções acneiformes: cloracne (por hidrocarbonetos clorados) e elaioconiose (por óleos e graxas);
10. Discromias: alterações da cor da pele (hiperpigmentação ou despigmentação – vitiligo ocupacional na fabricação da borracha);
11. Ceratose palmar e plantar adquirida: calos e calosidades;
12. Úlcera crônica da pele: em trabalhadores da indústria de galvanização (pelo cromo);
13. Geladura (frostbite): úlceras e necrose de pele pelo frio.
14. Eritema pérnio (frieira): inchaço, vermelhidão e coceira nas extremidades pelo frio.
As principais substâncias de uso industrial produtoras de dermatoses ocupacionais são: metais (cromo, níquel e cobalto), sabões, detergentes (germicidas e compostos de amônio quaternário) e solventes (acetona, álcoois, thinners), plásticos e resinas sintéticas (monômeros), borracha, tintas, vernizes, corantes, petróleo e derivados, ácidos, álcalis e derivados.
O diagnóstico de uma dermatose ocupacional é sempre feito com base na história de contato com o agente no trabalho capaz de ser reconhecido como a causa da dermatose em questão e o exame físico evidenciando a localização das lesões em áreas expostas ao agente suspeito. A melhora das lesões durante o afastamento do trabalho e a recidiva por ocasião da reexposição bem como quadros semelhantes em outros trabalhadores do mesmo setor reforçam o diagnóstico. Em caso de dúvidas ou de dificuldades para se isolar o agente causador, pode-se recorrer aos testes cutâneos de contato (patch-testes). Atenção deve ser dada aos quadros das chamadas dermatites factícias (simulações) por problemas psiquiátricos ou visando afastamentos do trabalho ou indenizações.
O tratamento de uma maneira geral segue os princípios terapêuticos dermatológicos de acordo com cada caso em particular observando-se ainda o seguinte:
1. Nas dermatites de contato alérgicas além da exclusão tenta-se a dessensibilização sempre que possível.
2. Descoberta e afastamento do(s) agente(s) causal(ais) e dos fatores contribuintes.
3. Manter o tratamento e o afastamento do trabalho até a completa recuperação.
4. Esclarecer sobre a causa e orientar os cuidados necessários.
5. Em casos de falha de tratamentos pensar na possibilidade de tratar-se de simulação ou não adesão para ganho secundário.
6. Considerar a transferência para outra área com readaptação profissional.
Em Dermatologia Ocupacional é importante a prevenção para se evitarem recidivas e aparecimento de casos novos. As medidas coletivas são: exames médicos (admissional e periódicos), automatização dos processos, engenharia de segurança ocupacional visando ambiente adequado e eliminação de agentes agressores, educação e escalas de rodízio para atividades insalubres. As medidas individuais são: higiene pessoal, uso de Equipamentos de Proteção Individual adequados (EPI) bem como protetores solares e cremes de barreira.
Dr. Leonardo Falci Cabeda
Médico Dermatologista
Especialista pela AMB/CFM/SBD
CREMERS 24015